Quando estou triste, choro, choro, choro. Ligo a vitrola e Chico, Chico, Chico. Quando estou feliz, também!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Carolina

          Hoje o nosso poeta completa 71 anos.
          71 anos de lindeza e poesia.
          Cantando  e encantando o universo feminino como nenhum outro.
          Nós mulheres temos a impressão que nada nos traduz melhor que Chico, então hoje deixarei que ele me cante.
          Confesso que demorei para gostar desta música, aquela coisa da infância de sempre cantarem para mim, depois quando eu comecei a me entender por gente vejo Chico querendo Carolina e ela adormecida, sem dar bola pra ele. Foi difícil superar! rsrsrs
          Mas vamos a linda voz e a bela poesia.


          Carolina
          Chico Buarque

          Carolina
          Nos seus olhos fundos
          Guarda tanta dor
          A dor de todo esse mundo
          Eu já lhe expliquei que não vai dar
          Seu pranto não vai nada mudar
          Eu já convidei para dançar
          É hora, já sei, de aproveitar
          Lá fora, amor
          Uma rosa nasceu
          Todo mundo sambou
          Uma estrela caiu
          Eu bem que mostrei sorrindo
          Pela janela, ai que lindo
          Mas Carolina não viu
          Carolina
          Nos seus olhos tristes
          Guarda tanto amor
          O amor que já não existe
          Eu bem que avisei, vai acabar
          De tudo lhe dei para aceitar
          Mil versos cantei pra lhe agradar
          Agora não sei como explicar
          Lá fora, amor
          Uma rosa morreu
          Uma festa acabou
          Nosso barco partiu
          Eu bem que mostrei a ela
          O tempo passou na janela
          Só Carolina não viu
          Eu bem que mostrei a ela
          O tempo passou na janela
          Só Carolina não viu

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Gota D'Água

Faz tempo que eu não fico tão Chico, mas hj estou ele, toda ele e Gota D'Água está tão eu!

♪♫"Deixa em paz meu coração"♫♪

Gota D'água

Chico Buarque

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...(2x)
Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água
Pode ser a gota d'água
Pode ser a gota d'água...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Anos Dourados

Esta música sempre me lembrou aquela máxima: Eu bebo, eu ligo.
Pois é, eu não bebo, mas eu ligo, mando sms, whatsapp, vou na porta, vou atrás. Meio stalker, né?
Mas quem nunca? Coisa de gente apaixonada, e com o tempo vamos aprendendo a nos controlar, eu pelo menos tenho aprendido. Seus beijos, nunca mais!

Bom, eu amo esta música, na voz da Bethânia eu me ponho a dançar e cartar beeeeeeem alto e estes dias encontrei esta relíquia no facebook de Imagens Históricas, com o rascunho do Chico e do Tom, claro que eu vim postar aqui pra vocês terem acesso a esta maravilha também.
Segue abaixo o texto publicado, no própria Imagens Históricas (se você já clicou no link de Imagens Históricas acima, clica neste também, que vai direto para a foto), falando à respeito, publicado em Imagens históricas:
Rascunho de “Anos Dourados”, de Chico Buarque e Tom Jobim

No ano de 1986, Chico Buarque e Tom Jobim compuseram a música “Anos Dourados”.
A letra da música em português, batida a máquina de escrever, contém observações e alterações que seriam aplicadas na versão final.
No lado direito, ainda há uma versão em inglês (com trechos em espanhol) da letra, escrita a mão por Tom Jobim.
...
A música, cantada por Chico Buarque, fez parte do LP “Passarim”, de Tom Jobim, lançado em 1987.
Para a composição, Chico ficou incumbido da letra enquanto Tom Jobim faria a melodia. O prazo de entrega do trabalho pronto foi definido: um mês antes da estréia da minissérie Anos Dourados, da Rede Globo (1986), já que a música seria tema da mesma.
Tom Jobim cumpriu o prazo estipulado, enquanto Chico Buarque, sobrecarregado com compromissos pessoais, entregou a letra um mês após o término da minissérie.
Por conta disso, na abertura original da minissérie havia apenas a versão instrumental, e apenas nas reapresentações posteriores é que incluíram a versão cantada.

Gio Zaneratto
Administração Imagens Históricas


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Futuros Amantes


Vamos começar o ano falando de amor?
De tranquilidade?
De Chico?
Acho esta música linda, a letra um verdadeiro poema que mostra que o amor acontece, que o amor vem, que mesmo que se tenha que esperar, o verdadeiro amor fica, esperando, em um fundo de armário, mas está junto para todo o sempre.
Viva 2013! Viva Chico! Viva o verdadeiro amor! Viva a entrega dos amantes!!!

Futuros Amantes
Chico Buarque


 Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

terça-feira, 19 de junho de 2012

Atrás da porta

Eu fiquei pensando em colocar o título do post de 68 anos, mas depois resolvi continuar dando os nomes das músicas aos posts, então elegi Atrás da porta como a música de parabéns de hoje.
É minha gente, o Chico da minha, das nossas vidas hj faz 68 anos, e continua mexendo com a libido de muitas mocinhas como eu por aí.
Também rolou maior dúvida que música postar hoje, mas depois de ver esta interpretação da Elis eu decidi escolhê-la, esta combinação de letra com interpretação e até quem não entende o idioma conseguiria entender o que se passa ara mim é algo magnífico.
Para mim o Chico é o homem que conseguiu entender a essência da Alma feminina quase por completo, sem ser tachado como machista, como aconteceu com Nelson Rodrigues e Vinícius de Moraes.
Eu certamente não vou entrar na discussão do machismo e feminismo, mas posso dizer que a mulher sente dores desse gênero como se tivesse arrancando as entranhas, e é exatamente isso que sinto com esta música, principalmente com a interpretação da Gloriosa Elis Regina.
A história desta música é bastante bonita, o momento de composição foi único para Chico, e lendo a história temos a sensação que ela foi composta exatamente para que Elis a interpretasse, pois ela estava em um momento de separação e reconstrução. Você pode ler a história aqui e ler uma pequena nota sobre a música aqui.
"...E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua."
Uma outra célebre citação, que nos traz a muitas histórias, realidades, que passamos ou sabemos de quem passou. Esta é uma outra parte que canto pelas alturas, naquele momento em que estou sozinha no carro ouvindo Chico, e volto a música para cantarolar novamente esta parte e redescubro a música inteira, enquanto espero este fim de música.
Uma coisa boa de se atentar é que esta versão da música, onde tem "Nos teus pêlos", estamos acostumados a ouvir "No teu peito", sim, a mudança é por causa da D. Censura, que na época criou caso com a palavra pêlos. E que época é essa? 1972.
Então vamos minha gente, celebrar o aniversariante com mais uma de suas letras geniais.



Atrás da porta
Chico Buarque e Francis Hime


Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pêlos, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua

terça-feira, 12 de junho de 2012

Roda Viva

A música em questão foi composta para a peça que leva o mesmo nome, em 1967. Uma época marcada pela ditadura militar.
Li nos comentários do "análise de letras" uma pessoa atentando que ler ao contrário Roda Viva é o mesmo que Viva a Dor, e tendo como base a época em que foi composta tem todo o sentido.
E o que melhor caberia hoje se não "Viva a Dor", para comemorar os 30 anos que veio chagando de mansinho com suas dores internas avassaladoras?
Esta música sempre me fez tocar o repeat, e cantar desafinadamente bem alto enquanto dirijo (geralmente quando mais ouço música).
Me lembro de uma época em que ouvi bastante esta música, foi quando comecei minha primeira faculdade (já iniciei duas e por motivos pessoais não pude, ainda, concluir nenhuma, mas a de jornalismo eu venho concluir, em breve), então, voltando para a primeira faculdade, que era de RH ~bom na verdade não fiz vestibular para RH e sim para marketing, mas isso é uma longa história que talvez um dia eu conte no Pinkekeando~ eu conversava muito com uma amiga que perdeu uma filha cedo por erro médico, e depois de uma conversa com ela eu passei dias, talvez semanas ou meses ouvindo esta música incansavelmente.
Eu, por minha vez, estava também em um momento delicado da minha vida e então a letra me ajudava a refletir sobre a minha vida.
Tenho voltado a escutar constantemente esta música, tenho precisado assimilar muita coisa, então uso as músicas, suas letras e poesias, para refletir mais sobre a minha vida e o andamento das coisas.
E então enquanto sigo desejando ter voz ativa e no meu destino mandar vamos cantarolando e rodopiando conforme as batidas musicais e do coração. 


Roda Viva
Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...(4x)

domingo, 3 de junho de 2012

Não Sonho Mais

Para atualizar o blog vou seguir a dica de um Sonho.
Gosto bastante desta música e há alguns dias, durante um sonho que tive acordada, foi sugerido que eu postasse esta música.
Me agrada muito ver a pessoa que sugeriu esta música, tocá-la e cantá-la.
Interessante como estou precisando acordar deste sonho, afinal temos que viver de realidade, mesmo que acordar seja dolorido.
Bom, mas vou ficar aqui entocada mais um pouquinho, revendo, relembrando e interpretando o meu sonho.
Enquanto isso fiquemos com Chico, afinal quando estou triste ligo a vitrola e Chico, Chico, Chico...


Não Sonho Mais
Chico Buarque

Hoje eu sonhei contigo,
Tanta desdita! Amor, nem te digo
Tanto castigo que eu tava aflita de te contar.
Foi um sonho medonho
Desses que, às vezes, a gente sonha
E baba na fronha e se urina toda e quer sufocar.
Meu amor, vi chegando
Um trêm de candango
Formando um bando,
Mas que era um bando
De orangotango pra te pegar.
Vinha nego humilhado,
Vinha morto-vivo, vinha flagelado.
De tudo que é lado
Vinha um bom motivo pra te esfolar.
Quanto mais tu corria
Mais tu ficava, mais atolava,
Mais te sujava. Amor, tu fedia,
Empesteava o ar.
Tu que foi tão valente
Chorou pra gente. Pediu piedade
E, olha que maldade,
Me deu vontade de gargalhar.
Ao pé da ribanceira acabou-se a liça
E escarrei-te inteira a tua carniça
E tinha justiça nesse escarrar.
Te "rasgamo" a carcaça
Descendo a ripa. "Viramo" as tripas,
Comendo os "ovo", ai!,
E aquele povo pôs-se a cantar.
Foi um sonho medonho,
Desses que, às vezes,
A gente sonha e baba na fronha
E se urina toda e já não tem paz.
Pois eu sonhei contigo e caí da cama.
Ai, amor, não briga! Ai, não me castiga!
Ai, diz que me ama e eu não sonho mais!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Todo o Sentimento

De Chico Buarque e Cristóvão Bastos.

Há dias venho cantarolando: "Depois de te perder, te encontro com certeza...", e hoje resolvi escutá-la por inteira, fazia algum tempo que eu não escutava esta música.
Então eu reli a letra, a percebi, e vi que é exatamente esta música que eu precisava para atualizar o blog, afinal há Chico para todos os momentos, e esta música descreve o meu momento atual.

Encontrei na internet uma Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais como requerimento parcial para obtenção do título de Mestre em Música, feita por Márcio Ronei Cravo Soares.
Li alguns trechos e gostei bastante, especialmente da entrevista com Cristóvão Bastos, na página 146.

Música composta em 1987. Primeiro Cristóvão fez a música e o Chico, que na época, gravava o disco Francisco, compôs a letra.
Uma verdadeira obra prima, uma delicadeza.



Todo o sentimento
Cristóvão Bastos e Chico Buarque

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano Novo

     Um ano novinho em folha minha gente, para a gente se alegrar, sorrir, chorar, melhorar.
     Que tal se ao invés de fazermos tudo de novo, fazermos tudo novo?
     Sejamos felizes, não por obrigação, mas por gosto!!!
 Ano Novo
Chico Buarque

O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo
Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E que já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo
A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse:
Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar
E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Geni e o Zepelim

Eu ficava pensando quando que eu ia postar essa música, o que falar dela.
Então hoje eu a cantarolei tanto, deve ter sido pelo fato do Nandinho tê-la usado como exemplo na aula de ontem, sobre cordel, rimas, versos e afins.
Na verdade, verdadeira, vou contar, eu vivo cantarolando esta música, eu sou fã da Geni, acho que foi a minha primeira heroína. Quando eu tinha meus seis, sete anos de idade, eu ouvia a música e entendia que ela salvava a cidade, mas que o povo a apedrejava mesmo assim, pobre Geni.
Me lembro que, ainda pequena, perguntei para a minha mãe: - Mas se ela salva a cidade, porquê as pessoas a apedrejam?
E ela olhou para o meu pai, riu e respondeu: - Porquê as pessoas são assim, mal agradecidas.
Hoje, passados alguns anos, muitos anos, eu entendo a letra, e sim, Geni continua sendo a minha heroína, independente de como, ela salvou a cidade, passou por cima dos seus capricho e deitou com o Comandante, tão cheirando a brilho e a cobre, e mesmo assim fora apedrejada, pelas pessoas mal agradecidas, pois o importante não é o que você faz, mas o que o outro faz, este sim não será salvo, mas você, você é imune.

Geni e o Zepelim
Chico Buarque



De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co'os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante,
Um enorme zepelim.
Pairou sobre os edifícios,
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia,
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de idéia!
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqüidade,
Resolvi tudo explodir,
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir".
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar;
Ela é boa de cuspir;
Ela dá pra qualquer um;
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela,
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro.
O guerreiro tão vistoso,
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela),
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre,
Tão cheirando a brilho e a cobre,
Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão:
O prefeito de joelhos,
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão.
Vai com ele, vai Geni!
Vai com ele, vai Geni!
Você pode nos salvar!
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um!
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:
"Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!